‘Dor que persiste por tempo igual ou superior a 3 meses’ é chamada de dor crônica. Essa é uma condição que atinge cerca de 60 milhões de pessoas no Brasil. 60 milhões! É muita coisa. Já em pacientes com câncer –que apenas em 2016 serão 600 mil novos casos diagnosticados no país– estima-se que 50% deles sofram da condição de dor (índice que sobe para até 90% dentre os casos avançados).
Hoje, no dia Mundial de Combate a Dor, especialistas, pacientes e sociedades médicas se unem para ampliar a conscientização sobre o tema, visando chamar atenção para esta doença negligenciada.
Segundo João Marcos Rizzo, médico do Instituto Hodie, de Porto Alegre, é fundamental que as pessoas saibam que sentir dor não é normal.
“Há vários tipos de dor, cada uma com suas características, e existem diversas formas de amenizá-las. Médicos e pacientes tendem a não colocar a dor como prioridade, afetando de maneira negativa o tratamento. Por isso a importância de se conversar sobre o tema para buscar sempre a melhora na qualidade de vida”, defende o especialista.
Estudos recentes apontam que 40% dos pacientes acreditam que sua dor foi subtratada em algum momento, reiterando a necessidade de promover o debate do tema.
Para pacientes que têm câncer a dor é intensa é frequente, seja causada pelo tumor ou pelo tratamento. Outro levantamento recente identificou que a dor crônica afeta a disposição de 89% dos pacientes oncológicos, fazendo com que eles passassem mais tempo em casa.
Quando questionados sobre qual palavra descreveria melhor a convivência com esse sintoma os resultados foram:
- desânimo (40,4%)
- angústia (35,6%)
- desespero (17,5%)
A solução para este tormento abrange diversas terapias, dentre elas o uso de analgésicos opióides como opção para casos de dor moderada e intensa, conforme a indicação da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com organizações internacionais, o Brasil está entre os 10 países com menor prescrição deste tipo de substância em todo o mundo, o que reforça o quadro de subtratamento da dor no país.
Ainda sobre tratamento, os especialistas chamam atenção para a disponibilidade destes medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e no sistema de saúde suplementar. “O paciente que sofre com dor, hoje no Brasil, enfrenta uma série de obstáculos até vencer o problema: a falta de comunicação com o médico, preconceito com os analgésicos opióides e, ainda, barreiras de acesso. Por exemplo: estamos aguardando parecer do Ministério da Saúde sobre a revisão do documento que padroniza o tratamento da dor crônica na rede pública – o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)”, destaca Rizzo.
Já para os pacientes que possuem convênio, há a Lei da Quimioterapia Oral, vigente desde 2014, que não é amplamente divulgada. De acordo com a medida, as operadoras de planos de saúde devem fornecer aos pacientes com câncer, medicamentos para o tratamento quimioterápico em casa – incluindo terapias para dor. Segundo o próprio especialista, “apesar de ser uma grande vitória do paciente, esta lei poderia estar beneficiando um número muito maior de pessoas”.
O médico conclui que “a expectativa é que a data do dia 17 contribua para a ampliação destas discussões, levando informação ao maior número de pacientes e buscando a melhoria na qualidade de vida de milhares de brasileiros. Quem sabe, num futuro próximo, possamos ter uma legião de pessoas que superaram a condição e hoje vivem sem dor? É para isso que estamos trabalhando”.