
Eram pouco mais de duas da tarde quando me preparei para ir para a sala de parto. Fazia frio em São Paulo e era uma daquelas sextas-feiras que prometia chuva e trânsito ao fim do dia.
Mas isso não me incomodava. Às 15h, impreterivelmente, começou a cirurgia que traria Gabriel a este mundo. Em questão de 20 minutos estava tudo pronto. “Enfermeira, a música”. “Pai, você está pronto?” essas foram as últimas frases do meu obstetra antes da música “Oito anos”, de Paula Toller, ecocar pelo centro cirúrgico. Em movimentos rápidos e certeiros, em três ou quatro minutos eu escutei o primeiro choro. E “well well well, Gabriel” ao fundo. Foi o momento mais emocionante da minha vida.
Tentamos de tudo para ter um parto natural, daqueles com contrações e dores. Sim, eu queria sentir a dor do parto e achava bem estranho essa coisa de marcar dia e hora para o neném nascer. Mas cinco dias antes, o líquido aminiótico começou a secar devagarinho, em doses homeopáticas. Gabriel estava encaixado e pronto pra sair, mas não havia dilatação. E com o líquido baixo, perto do limite de segurança, não havia outro jeito. Induzir a dilatação daria chance para algum problema neurológico ou sequelas. Desnecessário.
A dor veio, claro, como consequência da cesárea. E eu posso não ter entrado em trabalho de parto fisicamente. Mas as contrações existiram e minha cabeça já estava preparada para o nascimento. E o momento foi mágico e inesquecível, independente da forma que foi feito o parto.
Estima-se que no Brasil mais de 80% dos partos são cesáreas. Um valor muito distante dos 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Há grandes questionamentos sobre a facilidade da cirurgia ante horas e horas à espera da vontade do bebê vir ao mundo. De fato, eu senti na prática um desânimo geral, da parte médica, pelo parto normal. A própria maternidade tinha apenas três quartos preparados especialmente para partos normais. E também existem vários questionamentos sobre o que é melhor para o bebê, pois as horas de trabalho de parto podem ser sacrificantes para ele.
O fato é que o nascimento tem que ser feito da melhor forma para o neném. Ele está vindo ao mundo e essa chegada tem de ocorrer da forma mais natural possível. Com cirurgia ou não, o importante é que seja feito em seguranca, numa boa maternidade e com um médico de confiança. Porque, no fim das contas, aqueles pontinhos na barriga sao mínimos perto da emoção que é colocar uma criança no mundo.
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Adorei o texto!
Com certeza a emoção de ser mãe independe do parto ser normal ou cesárea (quando necessário!)
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Adoro ler tudo o que escreve, e realmente ser mãe é maravilhoso, o que importa de verdade é o momento e o bem estar da mãe e do bebe.
Eu nasci como mãe em 03/07/2007 e tive a grande oportunidade de sentir novamente a melhor sensação do mundo, ainda no centro cirúrgico em 11/01/2011, e digo que ser mãe em dose dupla é a melhor coisa do mundo. Cuidar de um bebe sem ser de primeira viagem, e acompanhar a cumplicidade entre irmãos é Divino!
Um bj Li