Começa bonitinho… depois você se preocupa em ver que a criança está se enrolando para falar. A dificuldade aparece e ela vai evitando algumas palavras ou até trocando por sinônimos. Isso pode ser resultado de uma disfluência, popularmente conhecida como gagueira.
Calma, não é o fim do mundo! Na maioria das vezes pode apenas estar atravessando um período de disfluência normal, também chamada de disfluência infantil. Essa situação ocorre em muitas crianças quando estão aprendendo a falar, aparecendo principalmente entre 18 meses e 5 anos com tendência a melhora espontânea.
Rafinha está nessa fase e dá uma enroscada em várias frases. Principalmente se for algo legal ou que ele está ansioso para contar. Aí é um tal de “ma-ma-ma-mãe!” sem fim. É que o ato de falar, em crianças pequenas, traz maior probabilidade de desorganização da atividade articulatória podendo favorecer o surgimento de bloqueios, repetições, hesitações, prolongamentos e em situações mais tensas, pode até levar à impossibilidade de falar.
A disfluência normal das crianças ocorre quando, ocasionalmente, repete uma ou duas vezes sílabas ou palavras, por exemplo: pa-pa-pato. As disfluências também podem incluir as hesitações e as interjeições como: “ha”, “hum”. Normalmente, são sinais de que a criança está aprendendo a usar a linguagem de maneira nova, podendo ir e vir de forma intermitente, melhorando com o tempo.
A gagueira se desenvolve na infância e em geral melhora com a idade mas até 1% da população pode apresentá-la. Normalmente, o principal fator predisponente é o familiar mas os atrasos do desenvolvimento da linguagem e o bilinguismo podem favorecê-la. Alguns fatores podem precipitar o seu aparecimento como o estresse ou o medo. As pressões por fluência também podem colaborar. Sendo assim, é inegável que o estímulo feito pelos pais é benéfico, mas sempre com bom senso. Não cobre do seu filho excessivamente.
Um dado curioso: a gagueira acomete principalmente o sexo masculino, na proporção de 4 meninos para 1 menina, com tendência de recuperação mais favorável nas meninas.
Em algumas situações raras, principalmente em adultos, a gagueira pode aparecer em uma pessoa que antes não gaguejava, ou seja, ser adquirida. Nesses casos, devemos considerar a possibilidade de um transtorno neurológico, psiquiátrico ou relacionado ao uso de certos medicamentos.
A partir do momento que a gagueira está instalada, a postura da família e da escola poderão exacerbá-la. Portanto, calma e cuidado com a criança! O preconceito e o bullying, além de tentativas de querer corrigir a criança podem agravar o problema. Daí a importância do seguimento adequado, com orientações a todas as pessoas que convivem com a criança.
A gagueira leve (quando a criança repete sons mais de duas vezes, como o pa-pa-pa-pato por exemplo), dá para notar uma tensão dos músculos faciais, especialmente ao redor da boca. Também pode ocorrer o aumento da intensidade da voz durante o gaguejar ou apresentar bloqueios e pausas.
A família pode adotar atitudes que colaborem para a reversão da gagueira. Separamos 10 dicas para você ajudar na hora que a fala engasga:
- fale lentamente quando conversar com a criança
- fale relaxadamente (sem perder a naturalidade para que não pareça uma fala artificial)
- dedique um tempo maior à criança
- mostre atenção quando a criança fala, se prendendo ao conteúdo
- mantenha contato visual com a criança o tempo todo
- mostre com gestos que você está atenta ao que a criança está falando
- não apresse a criança a falar ou termine as palavras por ela
- não discuta o assunto com outras pessoas na presença da criança ou a compare com irmãos
- cuidado com a competição entre os irmãos
- jamais deixe que critiquem seu filho.
Assim, a criança poderá seguir no seu ritmo. Não fique nervosa se seu filho gaguejar, tenha paciência e transmita segurança a ele. Evite situações que você sabe que irão favorecer a gagueira. Tudo isso auxiliará na superação desta fase.
A criança com gagueira severa gagueja mais de 10% da seu fala, apresenta esforço e tensão evidente para falar, evita ou muda as palavras usando vários sons antes de iniciar a fala. Nesses casos, é certo que a criança precisará de terapia.
O profissional habilitado no tratamento da gagueira é o fonoaudiólogo. Existem várias terapias que podem ser usadas, além das sugestões já apresentadas, que servem para a gagueira de qualquer intensidade.
De resto, é tentar não se desesperar e passar sempre uma postura positiva para a criança. É legal encoraja-la a conversar sobre a gagueira. E nessa hora é importante mostrar bastante paciência e aceitação sobre o assunto. Mas não ignore o assunto achando que vai passar. Uma orientação adequada poderá ajudar a resolver o problema ou ao menos evitar que o agrave.
Superar a gagueira é mais uma questão de perder o medo de gaguejar do que esforçar-se para falar melhor.
Fonte: o texto de hoje tem participação de Marco Aurélio Safadi, professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Coordenador da Equipe de Infectologia Pediátrica do Hospital Sabará. Conheça a Nuk