“Mãe, compra um Angry Birds pra mim? Aliás, não, compra um monte de figurinhas. Mas não esquece a chuteira do Neymar!”. Esse foi o discurso que escutei praticamente todos os dias nas férias. Compra isso, compra aquilo. É o passarinho suicida que está na moda, as intermináveis coleções de figurinhas e seus álbuns nunca finalizados e, claro, tudo que tem o nome do Neymar. Como lidar com os desejos e vontades das crianças? E como você, mãe, diz “não” sem culpa?
Esse também é o meu questionamento. Como fazer uma criança de quatro anos entender o valor do dinheiro? Como fazer com que ela pare de falar “comprar, comprar e comprar” e comece a pensar em “juntar, juntar e juntar”?
Vou contar como foi lá em casa, quando introduzimos o conceito financeiro para Gabriel.
Lá em casa funcionou com a mesada semanal, com a gente procurando ensinar que X moedas servem para comprar determinada coisa. Meu filho tem noção de que a moeda de R$ 1 é a dourada com prata. E que ela vale uma unidade de dinheiro. Então um carrinho Hot Whills custa 5 moedas, 4 pacotes de figurinhas custam 1 moeda, e a tal chuteira do Neymar custa 200 moedas!!! “Tudo isso mamãe?” Ele questionou com os olhos arregalados num misto de espanto e desapontamento, com as suas duas moedas na mão, correspondentes à mesada da semana.
Aí foi a deixa para explicar que sim, são muitas moedas, por isso não é toda hora que se ganha presente, que tem que se comportar, ir à escola, que os brinquedos que passam na TV são caros e blá, blá, blá. E que é preciso juntar dinheiro quando o desejo é adquirir algo que custe 200 moedas.
Toda essa história veio com um objetivo: fazer a criança entender o valor das coisas. O quanto custa e como ela pode juntar dinheiro para comprar o que quer e o quanto ela pode gastar com os brinquedinhos do dia a dia. Nós resolvemos dar R$ 2 a Gabriel por semana. Uma moeda do pai, uma da mãe. Com isso, ele pode juntar para comprar um carrinho, gastar na banca com figurinhas ou juntar muito para comprar outro brinquedo mais legal. Assim, ele já sabe que não é toda ida ao shopping que resulta em presente. Ele já entende que recebe o dinheiro e que esse montante é dele. Mas que nós, como pais, podemos ensiná-lo a administrar melhor essa quantia.
“Um ponto muito importante é explicar para seu filho, por meio de conversas, jogos e brincadeiras, que nem tudo que ele quer ou assiste na TV é para ele comprar”, explica Reinaldo Domingos, educador financeiro, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), autor das coleções infantis O Menino do Dinheiro e O Menino e o Dinheiro (Editora DSOP).
O especialista também faz um alerta a todos nós, pais, para que paremos de dar presentes fora de hora. “Reserve as datas especiais para dar brinquedo à criança, isso evitará que ela queira tudo o tempo todo.” Ou seja, precisamos mesmo aprender a praticar o não!
Com relação à mesada, Domingos dá algumas dicas:
- A partir dos três anos, quando a criança começa a demonstrar desejos próprios, já é o momento de analisar a melhor forma de inserir a educação financeira (não a mesada), mostrando o processo de troca do dinheiro por produtos.
- A evolução do valor da mesada deve ser gradativa, sempre acompanhada de conversas que mostram a importância desse dinheiro e por que ele deve ser utilizado com responsabilidade.
- Mostre para a criança a importância de poupar parte para realização de pequenos sonhos, como o de guardar dinheiro por um período para a compra de um brinquedo ou mesmo de uma bicicleta.
- Mostre a importância de conquistar os valores que recebe, mas não associe o dinheiro ao desempenho escolar, pois o estudo deve ser incentivado pela importância que ele terá para a vida dessas crianças.
- A mesada desenvolve o senso de responsabilidade e pode ensinar o quanto pode ser difícil fazer o dinheiro render quando não se tem controle sobre os próprios impulsos de consumo.
Aos pais que dão mesada para os filhos, mais um puxão de orelha do educador: não complemente com frequência a falta de dinheiro ocasionada pela má administração da mesada. “Muitas crianças e adolescentes gastam além da conta e passam a recorrer sistematicamente aos pais para conseguir mais dinheiro. Se os pais cedem aos pedidos, não ensinarão a controlar os impulsos, criando a ilusão de que se pode gastar sem limites. Quando isso acontece, a mesada perde a sua função”, explica.
Gabriel não chegou a esse ponto de gastar mais do que ganha de mesada, mas confesso que muitas vezes complementamos seu dinheiro para ele poder comprar o que quer. Acredito que dar a mesada é a parte mais fácil, perto da dificuldade em dizer não e podar as vontades dos pequenos.
Cuidado com a publicidade infantil na internet | Dica de Mãe
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[…] outra coisa que eu sempre converso com eles é sobre a real necessidade da compra. Já tivemos a fase do “eu quero, eu quero, eu quero”, que foi contornada, sem grandes problemas, com a orientação do real valor do dinheiro. Agora, […]