Há cinco meses nós estamos grudadinhos. Tem dias que eu saio um pouco, ele fica umas horinhas com a avó ou com o pai. Tem dias que eu saio um pouco mais, mas sei que ele está bem e que logo eu estarei de volta. Mas a hora que o sino toca e que, pééééééé, é hora de voltar ao trabalho, pqp que aperto no peito é esse???
Há uma semana eu choro na (longa) ida e na (longa) volta do trabalho. Deixo Rafael e me despeço rapidamente para não parecer uma mãe fraca e despreparada (ei, peraê, você escolheu isso, alerta o meu inconsciente!). Ligo para saber dele o mínimo necessário, para tentar me focar no trabalho, nos novos projetos e na nova vida que vem à tona após cinco meses de afastamento do trabalho. Nessas horas eu queria trabalhar no caixa do supermercado. Para ficar pim, pim, pim, passando códigos sem ter articular pensamentos muito complexos.
Porque pensar está difícil. Quer dizer, pensar em algo que não seja o filho está difícil. Por que o fim dessa segunda licença maternidade está doendo tanto? Eu sempre me pergunto na minha (longa) ida e (longa) volta ao trabalho.
Talvez porque antes eu estava pertinho e sabia que se desse merda eu corria e, em 15 minutos, já estaria juntinho? Talvez porque ele estava em casa e não a caminho de um berçário? Talvez porque não tivesse tanta gente dizendo que ter uma babá é melhor do que uma escolinha? Talvez porque eu tivesse cinco anos a menos e um peso nas costas relativamente menor do que tenho hoje?
Não sei…. mas não doeu tanto. Gabriel só foi para a escolinha com um ano e dois meses. Rafa está indo com cinco MESES. Exatamente como os filhos de muitas mães que eu conheço. E tá todo mundo aí. Tranquilo e feliz e vivo e sem doenças degenerativas. E por que então eu me sinto tãooooo culpada por isso?
Às vezes penso que largar a profissão e cuidar dos filhos seria a melhor opção. Daí saio de cena e me vejo daqui a três anos, sem trabalhar, sem escrever um texto pra revista, sem fechar um contrato ou administrar a rede social de um cliente. Me vejo vendo Palavra Cantada na tevê e dançando no meio da sala com as crianças. E depois me vejo esperando o marido chegar para me dar dinheiro para eu ir ali fazer depilação da virilha e da meia perna. Ah, e comprar um absorvente ou um creme anticelulite. E isso me deprime.
Me deprime porque não é o meu estilo de vida. E eu não saberia lidar com isso da mesma forma que outra mãe lida, mas não faz um call com o cliente enquanto abre a planilha no Excel e altera a foto no Photoshop para subir o html do site. São prioridades e estilos de vida. Eu não sei não trabalhar, não ter meu salário, não ter a minha Nota fiscal Paulista com os meus gastos. Parar de trabalhar nunca foi uma vontade nem um desejo meu. Até morar a 25 km do meu trabalho.
Entende como tá tudo dando um nó? Entende como eu me sinto ao pensar que se acontece algo com meu filhote, tão miúdo e indefeso, e eu estou a 25 quilômetros de distância-paulistana, como eu fico e como será o peso dessa culpa?
Entende também que eu ficarei cabeluda e cheia de celulite porque não sei lidar com essa dependência conjugal se eu parar de trabalhar?
Tá cansativo, eu sei. Tá somando tudo. A independência precoce do filho de seis anos, o fim da fase recém nascido, o início de uma rotina, o meu reinicio na vida pós maternidade. A cidade nova. A distância das amigas. A saudade de morar a três quilômetros do trabalho. A falta de tempo para fazer as minhas coisas. E o prazer absoluto e indescritível de ter dois filhos em casa. São contrapontos, sei disso.
É uma insegurança danada da vida misturada com a certeza que você fez a coisa certa na vida. É um misto de dor com amor. Riso com choro. É a mãe (agora) de dois saindo da zona de conforto do seu lar, único e absoluto por cinco meses, e voltando para dar a cara à tapa no mercado competitivo de trabalho.
O fim da licença maternidade é um rompimento cruel e difícil. É uma dor aqui no peito que sobe até formar um nó na garganta. Ao mesmo tempo é normal (para pessoas como eu) e você, como mãe retada que é, vai descobrir a melhor forma de passar por isso. (ahhh vai!)
Mas, por ora, deixa eu amargar a dor da saudade, até me acostumar com ela e saber que no fim do dia isso passa. Deixa ser eu a pessoa que chora no portão da escola enquanto o filho entra de boa rindo pra toda e qualquer tia. Porque não tem essa de ser forte, de ser guerreira, de ter que aguentar tudo. Separar filho de mãe dói. Passa, mas dói.
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Descobri hj seu blog e estou me encontrando nas suas dores e nos seus conflitos.e olha que estou lendo tudo meio “escondido” aqui no trabalho pq se alguém vir já vai pensar que sou mãe 24 horas e somente mãe a profissional, intelectual foi deixada de lado.Mas nós mães sabemos que isso é impossível, que os dois universos andam de mãos dadas e às vezes aos tapas!…rsrs.abçs e parabéns pelos posts que nos faz sentirmos “normais”.
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Me identifico total !! Estou passando por isso, faltam só 20 dias para o retorno ao trabalho e nunca imaginei que passaria por isso, logo eu tão independente…( tá viu.. ) mas é assim..aguardo o que vem por aí. Abços
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Vai dar tudo certo!
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Encontrei seu blog e tb estou passando por isso! Volto a trabalhar amanhã e estou com o coração apertado de deixar meu bebê depois de 5 meses juntos todos os momentos. Dói pensar q estarei longe e não verei as novidades do dia… Enfim, como vc, tb não me vejo dependendo do meu marido, além de gostar da minha profissão. Espero que dê tudo certo e consiga me adaptar. Beijos
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Olá. Quanto tempo se passou de quando voltou? Como tem sido? Estou prestes a voltar também e me identifico.
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oi, Kele. As primeiras semanas são difíceis, não vou mentir. mas é coisa da nossa cabeça, porque estando a criança bem, quem fica encanada pensando o tempo todo somos nós. o que eu fiz foi me ocupar e tentar nao pensar. também nao ficar ligando… deixa o dia correr. e sempre cheguei e ele estava bem. isso acalma.o coração. Fique tranquila qie vai dar tudo certo!