Eu sempre falo por aqui, mas vale repetir: a obesidade infantil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, já é considerada o mal do século. Somente no Brasil, segundos dados do IBGE, 33% das crianças entre 5 e 9 anos estão acima do peso.
gente, ⅓ das nossas crianças! Isso é muita coisa e se nós, os adultos, não fizermos algo, esses números vão aumentar uma rápida progressão.
O que a gente sabe hoje é que:
- Os pais são exemplos;
- A criança come porcaria se o adulto compra porcaria;
- A refeição em família ajuda muito na qualidade alimentar da criança;
- A atividade física é o melhor remédio para a prevenção da obesidade infantil. Tem que se mexer por pelo menos meia hora por dia!
- O equilíbrio é importante e é possível oferecer guloseimas para as crianças. O que não pode é fazer disso uma rotina!
Então, para alinharmos esse discurso com as nossas crianças, preparamos um especial com informações valiosas para você entender o que é a obesidade infantil, como ela age e o que podemos fazer para evitá-la:
O que é a obesidade?
A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido gorduroso no organismo e é determinada pela medida do chamado IMC (Índice de Massa Corporal) = peso em kg / estatura ao quadrado em metros), assim como no adulto. No entanto, na infância usamos curvas de normalidade apropriadas para a idade e o sexo.
IMC:

Curva de crescimento:

Qual a importância da obesidade?
A obesidade é hoje um problema de saúde pública mundial e ocorre em todas as faixas etárias, com taxas de 20% ou mais nas diversas populações. Cada vez mais tem sido observada em idades mais precoces e quanto mais o tempo passa, maior é a chance do pequeno se tornar um adulto obeso. Sabe-se que 80 % das crianças obesas serão adultos obesos, e 30 % dos adultos obesos foram crianças obesas.
Sabe-se também que os problemas que acompanham a obesidade no adulto já estão presentes ainda na infância, por isso é muito importante o diagnóstico e o tratamento adequados.
Quando a obesidade se inicia?
Os períodos críticos para o aumento do número de células gordurosas são:
o último trimestre da gestação,
o primeiro ano de vida,
a puberdade
Desordens nos hábitos dos filhos nestes períodos são fundamentais para o desenvolvimento ou a perpetuação da obesidade. Sendo assim, é extremamente importante que o pediatra acompanhe a evolução pôndero-estatural (relação peso x altura) e a alimentação dessa criança, para que corrija e oriente qualquer alteração o mais precoce possível.
Em geral, este processo de ganho de peso é algo natural e progressivo, visto que os hábitos que levam à obesidade estão presentes na família.
Por que a obesidade acontece?
A herança genética é sempre muito importante, mas o ambiente em que o pequeno vive é que irá determinar o seu futuro. As crianças são reflexos dos pais e de sua família. Os erros alimentares ocorrem muito frequentemente e já no primeiro ano de vida. O melhor alimento para o neném é, e sempre será, o leite materno, que deve ser oferecido exclusivamente até os 6 meses e juntamente com os alimentos complementares até os 2 anos ou mais. Se a amamentação não for possível, deve ser substituída por uma fórmula apropriada para a idade, já que alimentação rica em proteínas antes de 1 ano de vida (o leite de vaca apresenta 3 vezes mais proteínas do que o leite materno e as fórmulas) determina maior risco de obesidade, entre outras doenças no futuro.
É cada vez mais frequente vermos crianças recebendo alimentação excessivamente calórica desde os primeiros anos, excesso de açúcar, dietas pobres em fibras, refeições feitas ao mesmo tempo que realizam outras atividades, como assistir TV ou ouvir música (a distração faz com que a criança coma rápido demais e em excesso), substituição da dieta tradicional por lanches, consumo exagerado de líquidos durante as refeições, falta de atividade física (pouco vemos crianças em parques e praças), tornando-se hábito manter o pequeno entretido com TVs e video-games. Muitas crianças têm o hábito de jantar na escola e novamente em casa com os pais.
Quais os efeitos da obesidade sobre a criança?
As crianças apresentam vários efeitos da obesidade. Estes efeitos não são apenas sobre a saúde física, mas também emocional. As crianças obesas podem passar por problemas que comprometam a sua autoestima em relação à aceitação corporal, podendo ser preteridas nas atividades escolares ou mesmo sofrerem bullying. Não bastasse isso, como a maioria das crianças obesas serão adultos obesos, estarão desde cedo sujeitas às complicações da obesidade na infância e na idade adulta, como a hipertensão arterial, o diabetes, alterações do colesterol, doenças osteoarticulares, respiratórias, apneia do sono e acúmulo de gordura no fígado.
Como evitar e corrigir a obesidade?
Lembre-se sempre que mudanças na rotina do pequeno passam por mudanças na rotina da família. Dê o bom exemplo, nenhuma mudança radical irá surtir efeito e nada será a curto prazo. Esse planejamento para o reequilíbrio corporal pode passar pela ajuda de uma equipe multidisciplinar composta pelo pediatra, nutricionista, psicólogo e educador físico.
A criança deve participar do processo de reeducação alimentar. Procure levar seu filho ao mercado para que ajude na escolha dos alimentos. Faça associações dos alimentos com personagens que a criança goste, decore os pratos para tentar despertar o interesse das crianças pelo alimento saudável. A refeição deve sempre ser feita em horários adequados e com a família reunida à mesa, com a televisão desligada para que a criança se alimente apenas até a sua saciedade, sem exageros e sem rapidez. Não faça associações do tipo “prêmio” com os alimentos calóricos para que as crianças não relacionem a alimentação a algo punitivo. Evite os lanches calóricos entre as refeições.
Limite o tempo de TV e video-game para que haja tempo para a prática de atividades físicas. O exercício tem que ser um momento prazeroso para as crianças, então descubra algo de que ela goste. Procure fazer atividades corriqueiras do dia a dia a pé, como ir à escola, ao mercado ou à farmácia. Sempre que possível e nos fins de semana, prefira as atividades ao ar livre, como ir a parques e andar de bicicleta, pois com certeza irão despertar nas crianças hábitos saudáveis. Se você não der o exemplo, não espere que seu filho faça o que está pedindo!!
Muitas pessoas acham que com o passar do tempo a criança irá emagrecer, mas em geral isso não acontece. Fique atento aos hábitos alimentares e físicos do seu filho e procure a ajuda do pediatra para orientações preventivas e tratamento precoce. A obesidade é um mal silencioso, que temos de combater desde que a criança nasce.
Fonte: o texto de hoje tem participação de Marco Aurélio Safadi, professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Coordenador da Equipe de Infectologia Pediátrica do Hospital Sabará. Conheça a Nuk
Imagens: google images