Não é pela política. É pelo futuro dos nossos filhos.
Aqui em casa o papo foi muito além dos candidatos e partidos. Rolou ideologia, aulas de histórias e o que nós esperamos (e desejamos) para os futuros dos nossos filhos.
Aqui em casa o papo foi muito além dos candidatos e partidos. Rolou ideologia, aulas de histórias e o que nós esperamos (e desejamos) para os futuros dos nossos filhos.
A ideia não é entrar na disputa eleitoral e, apesar de termos clara a nossa escolha, tento ser justa com a atual decepção política, com a história do nosso país e com o direito de escolha das pessoas. Mas esse papo começou aqui em casa com um trabalho da escola sobre ditadura. Não dá para ignorar.
Coincidências da vida ou a hora de falar sobre isso?
O intuito não era chegar nos candidatos à Presidência, mas nunca se falou tanto sobre o golpe militar, sobre as torturas, os militares no poder e opressão dos direitos e ideais da população. Nunca se questionou tanto os direitos adquiridos nas últimas décadas e o retrocesso político. Nunca se falou tanto sobre uma esperança de um país inteiro manchada por conta de uns e outros que resolveram enriquecer às nossas custas. E o ódio que gera uma cegueira coletiva. De um lado e do outro.
Tenho um filho de dez anos que é atento a tudo que acontece em volta dele. Questiona, concorda, discorda e forma as próprias opiniões. E ele não deixaria passar batido tudo isso que estamos vivendo durante esse período eleitoral.
Voltemos ao trabalho de história sobre a ditadura militar. Explicamos para ele, em linhas gerais, o que foi esse momento político do país, o que poderia ter sido diferente, olhamos algumas capas de jornais daqueles anos e pesquisamos artigos na internet. Gabriel tinha de fazer uma entrevista com alguém que tivesse vivido naquela época e eu sugeri meu pai, não por ele ter sido uma referência na minha formação política, mas porque sabia que existiam histórias para contar por ele ter vivido e sofrido na pele aqueles anos.
De verdade, eu não tinha dimensão da profundidade do que tinha se passado com meu pai. Sei da história de um amigo dele (nosso) que foi torturado. Zé Carlos chegou a ser meu professor de história no terceiro colegial. Ele at[e falava sobre isso em sala de aula – e esses dias o Facebook me fez relembrar.
Mas não sabia, por exemplo, que meu pai tinha sido chamado para depor, por ser professor de física, debater e discutir em sala -durante as aulas de energia nuclear-, um acordo feito entre o Brasil e a Alemanha que incluía a construção de uma bomba atômica. “Foi assustador depor por conta de algo que eu falei em sala de aula e que algum aluno ‘cagoetou’”, disse meu pai na entrevista para Gabriel.
Escutei todos os áudios enviados ele para essa entrevista e me emocionei muito. Nasci em 1979, estava em Brasília com ele durante algumas manifestações pelas Diretas Já. Fiz campanha política no playground do nosso prédio em Salvador. Fui cara pintada. Lutamos pela transformação da antiga fábrica do Rio Vermelho, em Salvador, em um centro cultural (mas perdemos para o MC Donald’s).
E não tinha conhecimento dessa angústia do meu pai durante os anos da ditadura.
Eu não podia ignorar a curiosidade do meu filho -intensificada pelas campanhas políticas- e fingir que isso tinha sido uma passagem normal da vida do avô dele.
Da mesma forma que não posso ignorar a indignação de Gabriel com a possibilidade de termos um presidente declaradamente preconceituoso, principalmente depois de eu ter lido uma redação extremamente sensata que ele escreveu na escola (semanas intensas essas!).
“Hoje na aula de filosofia eu pude perceber que cada um tem sua opinião, cada um tem sua cor, cada um tem seu time e sua religião… muitas vezes a as pessoas reclamam, reclamam mas não fazem o seu papel…. hoje as pessoas não respeitam se a pessoa é transexual ou se é gay. Meus pais me ensinaram que não precisa gostar da pessoa, mas é mais que obrigação respeitá-las… as pessoas também não admitem seus erros e sempre colocam a culpa no próximo… tem gente que fala que azul e cor de menino e rosa e cor de menina. Mas não tem nada a ver, pois se fosse só de menino eu não colocaria esse título de rosa (o título da redação estava escrito em rosa).
Se tem gente que acredita em Coelho da Páscoa, Papai Noel ou Fada do Dente, deixa acreditar.”
Não posso ignorar as palavras do meu filho que, aos dez anos, consegue ter mais clareza sobre os direitos humanos do que muita gente com o triplo da idade dele.
Não posso ignorar a possibilidade de termos nas mãos a chance de formarmos uma geração melhor, livre, que respeite as diferenças e que tenha respeito, independente das próprias escolhas. E quando eu falo isso, falo da nossa relação diária com as crianças, de educação e formação –o que vai muito além dos dois dígitos que elegem um presidente.
Não é só sobre política. Não é só sobre os próximos quatro anos de governo.
É sobre formar um cidadão;
Formar um caráter;
Formar uma ideologia;
E não se conformar com o que está acontecendo em outubro de 2018.
PS: a foto que ilustra esse post é sobre o Movimento da Fábrica.