Diferentemente do primeiro filho, que mamou por oito meses, Rafa pegou o peito por 50 dias. Desses, permaneceu sem ganho de peso por 15. Após muito esforço, crises e um grande trabalho emocional, me rendi à alimentação artificial.
Eu até deveria ter seguido o conselho de muitas amigas e da minha médica e ter quetado o facho com relação ao fim da amamentação do Rafael. Mas não consegui, pois acho que isso deve acontecer com muitas mães, e preciso dizer que elas não estão sozinhas. Diferentemente do primeiro filho, que mamou por oito meses, Rafa pegou o peito por 50 dias. Desses, permaneceu sem ganho de peso por 15. Após muito esforço, crises e um grande trabalho emocional, me rendi à alimentação artificial. E explico:
Que eu tenho o bico do peito invertido e uma grande dificuldade para dar de mamar, já não é mais novidade. Mas isso nunca foi problema para amamentar Gabriel, o meu mais velho. Colocamos o bico de silicone ainda na maternidade e ele sugava que era uma beleza. Foi lindo, pelo tempo que ele quis.
Entre uma gravidez e outra eu fiz duas cirurgias nas mamas. Uma delas para retirar um nódulo (benigno), mas beemmm grande. Ele media, no dia da cirurgia, 8×4 cm, ocupava um belo espaço no meu seio esquerdo, o que gerava muita dor. Eu sabia que nessa cirurgia talvez fosse necessária uma reconstrução mamaria e que certamente a manipulação nos tecidos seria bem grande (assinei um termo de consentimento antes de entrar no centro cirúrgico autorizando a reconstrução com silicone, caso fosse necessário. E foi.). Apesar de ter essa consciência de que provavelmente eu não amamentaria, sempre nutri uma esperança. A gente quer acreditar, né?!
E ainda na gravidez, o leite começou a aparecer. Em algumas manhãs, o meu pijama aparecia molhado na região do seio, o que me deixava bem feliz. No primeiro dia pós parto, já com Rafa no colo, o colostro descia bem. Eu realmente tinha alguns ductos mamários e eles poderiam fazer passar a enorme quantidade de leite que eu estava prestes a produzir.
Ainda no hospital, tentamos (de novo) todas as manobras para que eu conseguisse amamentá-lo sem o bico de silicone. Em vão. A gente sabe que esse inicio é difícil, e nada muda, mesmo quando a mãe já é de segunda viagem. Em casa, tudo correu bem, ele mamava por 40 minutos, uma hora, e dormia bem. Parecia, de fato, satisfeito.
E estava. Rafael não passou fome em momento algum, nem entrou em quadro de desidratação. Mas também não ganhou peso, que ficou estável, com os mesmo 2.570 kg de quando saímos da maternidade. Na primeira visita ao pediatra, um alerta: vamos intensificar as mamadas. Na segunda, já 15 dias após o parto, uma decisão: entrar com o complemento.
Gráfico de ganho de peso de Rafael
Eu saí da sala do pediatra aos prantos. Um sentimento horrível de incapacidade tomou conta de mim. Até hoje ainda é difícil lidar com ele, principalmente quando vejo mães amamentando.
A quantidade de leite que Rafael estava conseguindo mamar, devido à pouca vazão, era suficiente para repor a energia perdida por ele nesse momento de esforço. Ele mamava, sim, mas estava apenas repondo a energia perdida naquela hora de mamada. Daí a estabilização do peso, num momento onde ele tem que ganhar cerca de 30 a 50 gramas por dia. 🙁
Eu espremia meu peito de hora em hora, tentei extrair com bombinha, colocava ele pra sugar junto com a sonda que mandava o complemento para a boca dele. A minha mama doía por dentro, uma queimação terrível. Pois havia leite ali, mas a quantidade de ductos mamários era pouca, insuficiente para drenar a quantidade de leite que estava sendo produzida. E o risco da mastite (que traria mais dores e febres) começava a aparecer.
Foram dias tensos. Eu fazia de tudo para que ele mamasse o máximo possível, mesmo sabendo que eu não conseguiria levar aquilo muito mais adiante. Ele começou tomando complemento uma mamada sim, outra não. Mas logo reclamou de fome nas horas que o leitinho do peito não era seguido pelo complemento.
Na semana seguinte, incluímos o complemento em todas as mamadas e mais uma mamadeira do meu leite, o quanto eu conseguisse drenar durante no dia. Não passava de 30ml, enquanto ele estava botando para dentro 120ml de leite, pela mamadeira, a cada três horas.
“Tudo bem, vamos manter a nutrição dele com a fórmula e garantir alguns anticorpos com o seu leite, pelo tempo que você conseguir”, aconselhou o pediatra. Rafael já estava recuperando o peso, estava cada dia mais cheinho. Só que começou a negar o peito, mesmo com o bico de silicone. Eram 10 minutos em cada mama e um escândalo pela mamadeira. Por mais ele eu colocasse ele e forçasse um pouco para que ele mamasse, veio a sabedoria da fisiologia humana. A produção do leite foi diminuindo drasticamente, de forma que eu entendesse na marra que aquilo não estava legal para ele. Ele estava ficando estressado a cada três horas, por não ter uma alimentação adequada no momento que ele queria, apenas, encher a barriga junto com um afago da mãe.
Do jeito que estava, ele chorando de um lado, eu do outro, numa tristeza sem fim, não estava legal. Era nítido para todos, menos para mim. Mas doía muito desistir, entregar os pontos. É como assinar um atestado de incapacidade. Como parar de correr no quilômetro 20 da meia-maratona. Isso foi me deixando mal, deprimida, para baixo. Eu tinha vergonha de fazer a mamadeira. Dar em público, então, nem pensar. Ele, do outro lado, já cuspia a chupeta e estalava a boquinha cada vez que entendia que aquele líquido branco era o seu leite. Tomava deliciosamente, arrotava grandão e caia num sono profundo e delicioso. Como é até hoje. Eu não via felicidade nisso.
Foi quando ele começou a perder as roupinhas. Nesse dia eu olhei as primeiras fotos dele no meu celular e percebi que meu Tuiuiú (apelido carinhoso que demos por conta das perninhas finas) já estava gordinho. Ganhando peso e com uma aparência menos prematura. Aos poucos fui acalmando o meu coração e entendendo que nem tudo acontece como a gente sonha e quer. Que tem horas que precisamos mesmo jogar a toalha e escutar quem esta a nossa volta. Precisamos enxergar os fatos e encará-los, por mais difícil que isso possa parecer.
Assumir que meu filho esta crescendo por conta do leite artificial foi muito difícil. Eu dava o gagau para ele tão perto do meu seio, que é como se aquele leite saísse de mim. Eu grudava tanto ele pertinho do meu coração, que às vezes ele até me empurrava. Fazia todo o ritual que faria como me fosse dar meu peito. Sentava no cantinho, ficava em silêncio e conversava com ele. Aconchegava aquele pequenino menino no meu braço e ali ficávamos, olhando um para o outro, por 5, 10 minutos, tempo que ele precisava para ficar satisfeito.
Dividia também esse momento com o pai, e até o irmão que pedia para amamentá-lo. E eu deixei, claro. Talvez isso minimize a minha culpa. Que, na verdade, eu não posso chamar de culpa, visto que eu nunca poderia conviver com um nódulo de oito centímetros no peito. Foi uma fatalidade da vida. Uma ironia do destino que, por bem, me preservou de alguma coisa mais séria no seio (tum, tum, tum isola!), mas que me impossibilitou de amamentar o meu segundo filho.
Também dei ao meu corpo uma folga da ocitocina que era espirrada em meu nariz, a cada tentativa de mamada. Mas, ainda assim, sabia que tinha um pouco de leite. Sentia no banho e, às vezes, o seio quente e latejando. Espremia o mamilo e ali estava ele. Um leite pingado, uma gotinha, mas ali estava. Então, desse pouquinho, de tempo em tempo, eu juntava um copinho de xarope de leite materno. Nada se comparava à mamada principal, claro. Mas aquele copinho era quase um pote de ouro. Era dele que eu tirava forças para entender tudo isso e aceitar, acima de tudo, dentro de mim (porque eu acho que isso é o mais difícil). E eu não devo nada a ninguém, sei disso, mas a minha cobrança comigo mesma sempre foi grande. Sempre.
Da amamentação eu guardarei dois momentos diferentes, mas não menos especiais. A lembrança de Gabriel sugando o peito será algo eterno; De Rafael eu guardo experiência, o poder de aprender e de entender que nem tudo e como a gente quer. E que é preciso aceitar a perder, às vezes, até da vida. Mas nem por isso ela deixa de ser especial. Assim como Rafael…meu segundo filho.
Em tempo: agradeço ao pediatra dos meninos, Douglas Coutinho, que me orientou pacientemente por telefone, Whats App e pessoalmente, e segurou meu drama e meus choros. A dra. Luciana Taliberti, que sempre foi muito transparente com relação às minhas possibilidades de amamentar (e que também me dava força e segurança). E a minha grande amiga Patricia Cerqueira que, durante um café pós prova, enquanto o nosso corpo transbordava adrenalina, abriu meus olhos e me confortou sem julgamentos, enquanto eu derramava lágrimas por trás dos óculos escuros. Foi ela que me mostrou esse lindo texto da Pat Feldman, que eu lia sempre que bate uma tristezinha, para ficar muito feliz com meus 10mls…
Baiana de corpo e alma e paulistana por opção. Jornalista, corredora, mãe de dois, esposa, escritora e influenciadora digital.
Ligada no 220v, mas amante da preguiça, do vinho, de uma boa cozinha e de Wi-Fi.
Viajante de carteirinha: por terra ou por ar, correndo ou pedalando, com os filhos ou sem eles.
Mulher, mãe e dona das próprias vontades.
Minha querida, fiquei veramente emocionada com o texto e muito feliz com a coragem em abrir o coração e contar para o mundo como dói desejar amamentar e realmente não conseguir, mas filhos first. E que bom que as águas turbulentas dentro do seu coração e seu cérebro estão se acalmando. Um grande beijo pra você. Te adoro de verdade!
Patricia.
PS.: Desculpe demorar tanto para ler, mas estou ficando menos on line e quando entro na virtualidade tem tanta coisa para ver que não dou conta!
E eu demorar tanto para responder! Mas estou me familiarizando com esse app do blog! Kkk você foi essencial pra minha coragem surgir!!! E para colocar tudo isso para fora, o que me fez muito muito bem!!!!
Obrigada por todo carinho de sempre!!!! Beijoss
Nanna, fiquei muito tocada com o seu texto, de uma sensibilidade e sinceridade incríveis… Estes dias tenho pensado muito aonde chegamos com tanta luta pela “emancipação feminina” e o único erro que nunca podemos cometer é o de traírmos à nós mesmas. O que é natural sempre tratá estes sentimentos de culpa e dúvida de que porque não conseguimos. Eu não tive problemas com amamentação, mas não tive parto normal, por diversas razões. Não cabe a mim julgar que se tivesse feito isso ou aquilo, eu conseguiria, você conseguiria… Às vezes tenho vontade de dizer às mães: esqueçam tudo o que ouvem, lêem e discutem com outras mulheres: apenas viva a sua maternidade intensamente! Sem dar satisfações ou explicações a quem quer que seja… Essa torre de Babel que é essa Blogosfera que vivemos, grupos virtuais e vivenciais, nunca deixarão de ser o que realmente são: cada um falando a sua lingua, ou seja, cada um falando a sua verdade. Não existe uma verdade única. Mas precisamos no mínimo, viver a nossa verdade! Um beijo com carinho para você e parabéns pela coragem!
Simone, me emocionei ao ver um
Comentário seu! Acho que estamos sempre tão preocupadas com que os outros vão pensar e dizer que esquecemos de nós mesmas né?!?! Muito obrigada pelo seu carinho!!!!! Beijos
Olá, me comovi com seu texto. Tenho meu bebe, o Guilherme, hoje com 4 meses, mamou no peito por 10 dias e tive que entrar com complemento, ao contrário do seu ele estava perdendo muito peso só com o materno. Consegui levar peito e complemento até 2 meses e meio, quando ele começou a chorar muito no peito, me empurrar, ficar aos prantos… E se acalmar e mamar soluçando a mamadeira. Meu pediatra disse olhando bem dentro dos meus olhos, que largar o peito, não iria fazer mal nenhum ao meu bebe, pois o que sustentava ele era o complemento, mas que o mal todo estava no emocional da mãe, dependendo de como eu levasse a situação, faria muito mal a mim, e consequentemente ao bebê. Levei a sério, encarei e sei que fiz o melhor para meu filho. Tive momentos de culpa, mas lembrava do olhar do pediatra, e logo passava.
Então, sei que a teoria é linda, mas a realidade é o dia a dia, e o que importa e que tentamos e peito ou complemento, amor não falta para nossos filhos e cada dia ele está mais forte, esperto e feliz.
Oi Andressa! Que bom ler seu comentário! É assim mesmo, a gente tem que fazer o melhor pra eles e tentar deixar a culpa de lado! Por aqui é igual! Mas é muito bom ver ele ganhando peso e saudável ne?!?! Bjs
[…] Porém infinitamente menos estressante e perigoso. Rafa é um bebê que mamou pouco no peito, e já expliquei o motivo por aqui. Por isso deve ter menos anticorpos que o normal. É um bebê com histórico familiar de alergias […]
Que lindo… tambem estou perdendo a luta para amamentacao exclusiva, mesmo oferecendo seio tantas vezes e ordenhando meu leite e pouco. Ninguem entende o porque do meu leite vir pouco, ja que meu corpo tinha que prduzir mais leite se meu bebe esta mamando bem e estou ordenhando… e tao frustrante
[…] bebê. Seja de forma precoce (como no meu caso, que não consegui amamentar meu segundo filho – leia em “o dia que eu parei de amamentar”), seja para voltar ao trabalho ou por qualquer outro motivo que a mãe julgue importante. E aí o […]
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Minha querida, fiquei veramente emocionada com o texto e muito feliz com a coragem em abrir o coração e contar para o mundo como dói desejar amamentar e realmente não conseguir, mas filhos first. E que bom que as águas turbulentas dentro do seu coração e seu cérebro estão se acalmando. Um grande beijo pra você. Te adoro de verdade!
Patricia.
PS.: Desculpe demorar tanto para ler, mas estou ficando menos on line e quando entro na virtualidade tem tanta coisa para ver que não dou conta!
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E eu demorar tanto para responder! Mas estou me familiarizando com esse app do blog! Kkk você foi essencial pra minha coragem surgir!!! E para colocar tudo isso para fora, o que me fez muito muito bem!!!!
Obrigada por todo carinho de sempre!!!! Beijoss
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Nanna, fiquei muito tocada com o seu texto, de uma sensibilidade e sinceridade incríveis… Estes dias tenho pensado muito aonde chegamos com tanta luta pela “emancipação feminina” e o único erro que nunca podemos cometer é o de traírmos à nós mesmas. O que é natural sempre tratá estes sentimentos de culpa e dúvida de que porque não conseguimos. Eu não tive problemas com amamentação, mas não tive parto normal, por diversas razões. Não cabe a mim julgar que se tivesse feito isso ou aquilo, eu conseguiria, você conseguiria… Às vezes tenho vontade de dizer às mães: esqueçam tudo o que ouvem, lêem e discutem com outras mulheres: apenas viva a sua maternidade intensamente! Sem dar satisfações ou explicações a quem quer que seja… Essa torre de Babel que é essa Blogosfera que vivemos, grupos virtuais e vivenciais, nunca deixarão de ser o que realmente são: cada um falando a sua lingua, ou seja, cada um falando a sua verdade. Não existe uma verdade única. Mas precisamos no mínimo, viver a nossa verdade! Um beijo com carinho para você e parabéns pela coragem!
Simone De Carvalho
Fundadora da AMS Brasil
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Simone, me emocionei ao ver um
Comentário seu! Acho que estamos sempre tão preocupadas com que os outros vão pensar e dizer que esquecemos de nós mesmas né?!?! Muito obrigada pelo seu carinho!!!!! Beijos
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Beijo querida,
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Olá, me comovi com seu texto. Tenho meu bebe, o Guilherme, hoje com 4 meses, mamou no peito por 10 dias e tive que entrar com complemento, ao contrário do seu ele estava perdendo muito peso só com o materno. Consegui levar peito e complemento até 2 meses e meio, quando ele começou a chorar muito no peito, me empurrar, ficar aos prantos… E se acalmar e mamar soluçando a mamadeira. Meu pediatra disse olhando bem dentro dos meus olhos, que largar o peito, não iria fazer mal nenhum ao meu bebe, pois o que sustentava ele era o complemento, mas que o mal todo estava no emocional da mãe, dependendo de como eu levasse a situação, faria muito mal a mim, e consequentemente ao bebê. Levei a sério, encarei e sei que fiz o melhor para meu filho. Tive momentos de culpa, mas lembrava do olhar do pediatra, e logo passava.
Então, sei que a teoria é linda, mas a realidade é o dia a dia, e o que importa e que tentamos e peito ou complemento, amor não falta para nossos filhos e cada dia ele está mais forte, esperto e feliz.
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Oi Andressa! Que bom ler seu comentário! É assim mesmo, a gente tem que fazer o melhor pra eles e tentar deixar a culpa de lado! Por aqui é igual! Mas é muito bom ver ele ganhando peso e saudável ne?!?! Bjs
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Que lindo… tambem estou perdendo a luta para amamentacao exclusiva, mesmo oferecendo seio tantas vezes e ordenhando meu leite e pouco. Ninguem entende o porque do meu leite vir pouco, ja que meu corpo tinha que prduzir mais leite se meu bebe esta mamando bem e estou ordenhando… e tao frustrante
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