O tamanho do castigo
Às vezes é inevitável, o castigo precisa ser dado. O coração aperta, o medo de errar grita. Mas o desejo de criar uma criança melhor é o que faz nos mantermos firmes na decisão. Será que isso funciona?
Às vezes é inevitável, o castigo precisa ser dado. O coração aperta, o medo de errar grita. Mas o desejo de criar uma criança melhor é o que faz nos mantermos firmes na decisão. Será que isso funciona?
Segunda reclamação na agenda do mês. Duas brigas com amigos queridos. Ele se defende, tenta não entregar o real motivo da confusão e faz um drama básico. Ganha um castigo. Ficou sem ir ao primeiro dia de aula da escolinha de futebol do São Paulo. Desabou no chão a chorar e eu, imediatamente, me arrependi. Peguei pesado demais com o castigo. O que fazer?
Não sei. Fique mal pela minha punição. Ele, aos prantos, pedia pra ficar sem vídeo game, sem ir ao aniversário da amiguinha, sem qualquer coisa, menos a aula de futebol. No dia do teste de acesso à escolinha, a euforia era demais. Sem dúvida ele estava ansioso por este momento de poder fazer aula numa escolinha de futebol do time do coração. E aí o meu golpe foi bem no meio do peito. Ai, que dó do meu pequeno. Como é difícil educar.
Por outro lado, imagino que um castigo, para surtir efeito, tem que cutucar a ferida. Eu não sou adepta aos castigos. De vez em quando rola, mas não é algo corriqueiro aqui em casa. Só que dessa vez ele agiu com violência na escola, pela segunda vez, e com amigos que ele gosta. Não foi mau comportamento, não foi quarto bagunçado nem roupa espalhada pela casa. Foi soco. Por duas vezes.
Poxa, violência eu não permito. Nada justifica uma criança bater na outra. Ele tem de aprender a conversar e a dialogar. Tem de pedir para a professora ou o adulto próximo ajudar a resolver. “Mas aí todo mundo me chama de bobão, porque eu chamo a professora.” “Eu fui ficando tão nervoso que tive vontade de bater!”, tentava se justificar.
O calor do futebol da escola faz isso, eu sei. O futebol, alias, deixa a gente com os nervos à flor da pele. E foi isso que eu pensei imediatamente na hora que dei o castigo. Ele prontinho, vestido para o primeiro dia de aula. Se é isso que ele mais gosta, ele terá que mudar o comportamento para ter. Está suspenso da aula da escola pelo professor, como um jogador que sai de campo ao agredir o adversário. Não é certo. Está fora do próximo jogo.
(Decide o juiz)
Se fiz certo? Não sei. Tá doendo demais. Porque ele ficou realmente magoado.
“Isso prova que você não gosta mais de mim.” (apelou)
É porque eu te amo, filho, te amo demais, que fiz isso.
“Por favor, me dê mais uma chance!” (aos prantos)
Não posso voltar atrás de um castigo dado. Posso? Será que se eu liberasse a aula de hoje ele perceberia o quão grave foi a atitude dele na escola?
(Juiz não volta atrás da sua decisão em campo)
“É para sempre? Estou proibido para sempre de ir na aula de futebol?”
Isso depende de você, filho. A sua chance é essa. Peça de novo desculpas ao seu amigo, mude seu comportamento. Quando estiver nervoso respire, converse e peça ajuda. Mas nunca, nunca bata em ninguém.
“E se me baterem, como no dia do judô que os dois meninos me seguraram? O que eu faço?”
(…)
(…)
Não sei. Falo pro meu filho descer a mão nesses dois meninos ou para ele gritar por ajuda? Falo pra ele tentar uma conversa enquanto dois colegas o apertam contra o tatame ou pra sair correndo? A atitude dele foi dar um soco para acabar com tudo. Qual seria a minha? E a sua?
Seis anos. Uma idade difícil. Muitas descobertas, muitas afirmações e muitas mudanças. Personalidade se formando e nós, mães, sendo responsáveis por boa parte do que essa criança será daqui pra frente.
Violento, não! Por favor. Mas covarde também não dá! E aí, como proceder?
Foi uma manhã bem difícil. Está sendo um castigo doído.
A ajuda da escola foi necessária. Porque misturar sentimento com razão da tilt.
E o medo de fazer tudo errado é sempre maior do que a certeza de estamos no caminho certo.
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Ontem Nic aprontou: pegou 2 facas escondido para destruir um brinquedo e ver como era dentro. Não sabia que castigo aplicar nesse caso. Foi fogo! Tá sem casa de vó esta semana, sem bolacha. Mas percebi que ele não ficou sentido. Imagine aos 15… :\
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É difícil mensurar esse sentimento deles pelas/com as coisas. Hoje na festinha da amiga (que ele sugeriu abrir mão no castigo), rolou um desentendimento. Em casa: eu pensei em bater nele. Mas aí lembrei da nossa conversa. Parei tudo e dei um abraço forte. Acho que fiz algo certo. Ele entendeu.
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Foi doido para vc e prá ele, mas nunca será esquecido. Em outra situação parecida ele vai se lembrar…