A minha vida inteira eu sofri com aftas. Quando criança, passei por muitos médicos e especialistas que procuravam alguma razão para aqueles machucados que nunca saravam. Depois de um tempo descobrimos que as aftas apareciam sempre em momentos de nervoso e ansiedade, ou seja, era uma reação psicossomática e nada tinha a ver com problemas estomacais. Com os meninos os episódios de aftas são raros, mas, pelo meu passado, eu sempre investigo se tem alguma característica emocional ou se é uma estomatite.
Apesar de ser caracterizada pelo aparecimento das aftas, a estomatite é diferente dos machucadinhos da boca (quando eles mordem a bochecha, por exemplo). Essa infecção afeta toda a cavidade oral com inchaço e vermelhidão das gengivas, às vezes até com sangramento local. Por conta disso, é muito comum a criança babar, ter dificuldade de se alimentar e beber líquidos. Além dos sintomas locais, a criança pode apresentar febre, dor, irritabilidade e prostração. Todos esses sintomas podem durar até 15 dias, mas o período crítico ocorre no final da primeira semana, explica Marco Aurélio Safadi, professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e coordenador da Equipe de Infectologia Pediátrica do Hospital Sabará.
Normalmente, os vírus são os responsáveis por essa infecção. Dentre eles, o principal é o vírus herpes simples (HSV-1). A estomatite também pode ser a manifestação de outras doenças não infecciosas, apesar disso ocorrer em menor frequência. “Caso o quadro seja recorrente e/ou persistente, deve-se atentar para outras possibilidades e a orientação do pediatra irá auxiliar no diagnóstico”, explica o médico.
Eu não sabia que existia um período de maior incidência da estomatite, mas os episódios são mais frequentes no outono e nos inverno, porque nesses meses é maior a maior a permanência em ambientes fechados, o que facilita a transmissão do vírus –que ocorre pela saliva contaminada ou pelo contato com as lesões.
As crianças menores são as mais acometidas pela estomatite, também por frequentarem creches e escolas e estarem na fase oral, onde tudo que pegam acabam colocando na boca.
Marco Aurélio explica que a principal complicação da estomatite é a desidratação. Por conta da dificuldade em comer e beber e da própria inapetência causada pela doença, a criança ingere pouco líquido e pode ficar desidratada. “Embora aconteça na minoria dos casos, pode ocorrer infecção secundária por bactérias, com aparecimento de lesões com secreção e odor forte, podendo agravar e/ou prolongar os sintomas gerais como a febre. Nessa situação, o uso de antibióticos poderá ser necessário.”
Por ser uma infecção causada por vírus e muito comum nos primeiros anos de vida, o cuidado para evitar a transmissão deve ser o mesmo que você provavelmente já faz para gripes, resfriados ou outras doenças contagiosas que acometem os bebês: lavar as mãos com frequência e higienizar brinquedos de uso comum com água e sabão ou detergente, evitando-se a propagação do vírus.
Caso seu filho fique doente, o melhor procedimento a fazer, explica o médico, é evitar a ida a escolas ou creches, porque poderá transmitir a infecção para outras crianças. Além disso:
- Ofereça alimentos frios e pastosos, que não exijam mastigação e não tenham ácidos ou temperos. Iogurte, sorvete, gelatina e líquidos como sucos de frutas não ácidas, água, chá e leite frios são ótimas opções.
- Estimule preferencialmente a ingestão de líquidos, oferecendo de forma fracionada mais vezes ao dia para se evitar a desidratação.
- Mantenha seu filho em repouso e o medique com analgésicos para aliviar a dor.
- A higiene oral é importante para se evitar as infecções secundárias. Pela resistência das crianças em permitir a escovação, podem ser usados antissépticos bucais, que aliviam a dor, na forma de bochecho.
Lembre-se que a estomatite é, na maioria das vezes, causada por infecções virais. Os cuidados são apenas sintomáticos, ou seja, objetivam aliviar os sintomas e prevenir as complicações. O vírus tem um ciclo com duração média de 1 a 2 semanas, com remissão de todos os sintomas.
A consulta pediátrica é fundamental para orientar o diagnóstico e as melhores opções para que o seu pequeno sofra o mínimo possível em consequência da estomatite.
Fonte: o conteúdo original foi desenvolvido por Marco Aurélio Safadi, parceiro da NUK e professor de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e coordenador da Equipe de Infectologia Pediátrica do Hospital Sabará.