O segundo semestre não chegou apenas com o fim das férias das crianças. Vivemos alguns dias de adaptação total na nossa rotina. Da casa inteira, das relações e funções de cada um na nossa família. Há cerca de um mês eu voltei a trabalhar em São Paulo (esquema cara-crachá, horário fixo), e isso significa ficar cerca de 11 horas fora de casa. ONZE horas longe da rotina que eu tanto organizei e vivi pelos últimos anos.
Desde que o Gabi nasceu, eu adaptei o meu trabalho a um novo estilo de vida. Resolvi abrir o meu próprio negócio e ser dona do meu tempo -e da minha empresa. Foram oito anos empreendendo, trabalhando muito e vivendo na pele todas as dificuldades de ter uma pequena empresa em solo brasileiro. Veio a crise, resolvemos entregar um escritório bem localizado em SP e trabalhamos cerca de um ano e meio em esquema home office. Eu e mais 4 pessoas. Essa foi uma das fases que eu mais trabalhei (virei muitas madrugadas), mas estava pertinho dos filhos atenta aos primeiros anos de vida de Rafa, que foram bem complicados devido às crises respiratórios que começaram aos dois meses depois dele nascer).
Mas a minha estrutura emocional não combina com a solidão de um home office. Não todos os dias da semana. Eu preciso sair, me arrumar para trabalhar, ver gente, sair para almoçar… essa rotina meio maluca, mas que é perfeitamente entendida por quem trabalha fora de casa. Eu já estava sentindo falta do deadline correr na veia. Pros prazos de entrega, das metas a cumprir de sair de casa e ter a minha vida profissional –de forma profissional, sem pijama e pantufa.
Arrisco a dizer que o formato de trabalho home office cansa muito mais. Porque é impossível desligar do dia a dia da casa. Você divide a mente em vários compartimentos e tenta administrar tudo simultaneamente. É a roupa na lavanderia, a briga entre os filhos, a internet a cabo que parou de funcionar e o texto que você precisa entregar até o fim do dia. Tudo junto.
Mas, independente da comodidade de trabalhar em casa -isso conta muito, especialmente em SP-, eu precisava sair de casa por mim. Sou uma pessoa que precisa de gente, de sair, de falar, de produzir e de escutar opiniões. Não me contento com as redes sociais e o silêncio do escritório de casa.
A primeira semana não foi fácil. Além de organizar tudinho em casa (os meninos ainda estavam de férias), eu tinha de testar percursos com carro, metrô e trem, horários e logísticas. O marido foi essencial nesse momento e, como sempre, assumiu o papel dele e, agora, parte do meu. O que a gente dividia a noite, agora fica praticamente na função dele. A sogra tem recebido um filho que chega no transporte, a minha mãe esteve aqui uns dias e deu a maior força da vida. Ou seja, tudo se ajeita. E está se ajeitando.
Uma amiga me disse que eu estou com uma cara de quem está muito feliz. Que dá para perceber. Sim, estou.
Outra amiga disse que não teria coragem, que é muito tempo fora de casa e longe (moro numa cidade e trabalho em outra). Sim, é.
Amo ser a mulher que eu sou, a profissional que sou, a esposa que sou e ser mães dos meus dois meninos. Ter de abrir mão de qualquer uma dessas funções não é fácil, mas às vezes é preciso. Mas a satisfação de recolocar aquele pedacinho que estava faltando na minha vida, está sendo essencial para a nossa eterna busca: a felicidade.
E vamos que vamos, porque essa nova fase está só começado.