A cara de Gabriel pensando na próxima pergunta
“Por que a gente acorda? Por que eu tenho pinto e você não? Por que você chora vendo televisão? Por que a gente tem de almoçar?” Quando eu escutei a música Oito Anos, que a Paula Toller fez para Gabriel –filho dela- (e que a gente escuta repetidamente em casa), eu imaginei que a fase do “por que” demoraria mais um tempinho para chegar. Afinal, o tal Gabriel de Paula Toller já tem oito anos, né?!
Hoje, num único dia, Gabriel é capaz de fazer 457 perguntas, das mais óbvias às mais complexas, que eu não tenho a mínima ideia de como responder.
Além da repetitiva lista de perguntas, Gabriel está viciado em aprender. Ele quer aprender a contar até 41 (sim, 41), quer aprender o ABC, quer falar bom dia em francês e italiano que nem o McQueen e, claro, quer aprender a ler. Ele sai lendo todos os símbolos, separando letra por letra. Vê o símbolo do uniforme na farda e fala es-co-la-ba-khi-ta, como se tivesse lendo letra por letra, sílaba por sílaba. Ah, e ele faz isso VÁRIAS vezes ao dia, óbvio.
O “por quê?” cansa. Confesso que mesma digo algumas vezes “ah, Gabi, sei lá!” ou o clássico “porque sim”. Depois me sinto culpada. Será que a gente tem de dar mais atenção a isso? Mesmo quando ele pergunta “por que a gente acorda no claro e dorme no escuro?”. Aliás, por quê? Seria o relógio biológico? Cultural? E como eu posso explicar isso pra ele?
Não precisa. A gente não tem que ser saber tudo. Aprendi isso lendo uma matéria na revista Crescer. Lá eles dizem que é importante dizer que há coisas que você também não conhece e que pode procurar junto com ele. E daí convidar a criança a ir atrás da resposta. Pode ser buscando na internet, num livro, ou perguntando para outra pessoa.
Outra coisa que essa reportagem diz é que é para a gente não rejeitar as questões automaticamente (ou seja, aquilo de dizer “ah, Gabi, sei lá!” é errado!!!). “Uma atitude como esta pode mostrar à criança que não é importante perguntar”, diz um trecho da matéria.
E eles vão continuar perguntando… E a gente vai continuar pensando nas respostas, com ou sem paciência. Hoje mesmo eu disse que explicaria como brincar com o Novo Jogo da Vida que ganhamos. E que agora vem com os tradicionais pininhos rosa e azul dirigindo um Fiat Uno. E você não tem mais aquele monte de dinheiro. O pagamento é feito via cartão de crédito e débito. Sim, com maquininha mesmo.
“Mãe, por que você não sabe jogar esse jogo?”, ele me perguntou com aquela carinha desapontada. A minha resposta: “Filho, eu sabia, há uns 15, 20 anos. Mas agora preciso ler o manual de instruções”. É, mãe não tem mesmo resposta pra tudo.