Precisei de 10 dias para colocar a vida no lugar e a casa em ordem para, enfim, respirar fundo e fazer o relato do nascimento de Rafael, meu segundo filho. Momento único e especial, de novo, que faz a gente se emocionar sempre que vê as fotos, e querer registrar cada momento na memória. Depois de 5 anos, a gravidez de Gabriel vem em flashes. Lembro de muita coisa, tenho muitos registros, mas tudo meio picadinho. A memória da gente vai ficando estranha fraca com o passar do tempo.
Mas entrar na sala de parto novamente me deu duas certezas: 1. Eu nasci pra ser mãe. 2. Eu nunca vou esquecer, por mais guardado que esteja aqui na caixola, o momento que pari meu primeiro filho.
Preciso respirar e dividir em etapas cada momento desse post para nao deixar passar nada!
A notícia:
Eram 16h quando eu entrei para fazer o ultrassom no São Luiz. Era um exame eletivo, de rotina, junto com uma monitoragem fetal (cardiotoco). Cheguei dirigindo, de salto, ainda com trabalho em casa para fazer e pronta para ver as fotos de Rafa mais uma vez.
Durante a monitoragem fetal, duas desacelerações no coraçãozinho do bebê fez o médico olhar para a tela, para mim, para a tela, para mim e depois fazer a boca do Coringa, o que me deixou tensa. Foram duas desacelerações rápidas, mas que despencaram o batimento por fração de segundos. (Escrevo sobre saúde e atividade física há quase 10 anos. Conheço bem sobre frequência cardíaca, aceleração e desaceleração dos batimentos. Já estranhei quando o tracinho ultrapassou a faixa dos 100 b.p.m. Boa coisa não parecia ser).
Em seguida, passei para a sala de ultrassonografia. Todas as medidas perfeitas, um bebê saudável, 38 semanas e 2 dias, doppler bem coloridinho. Mas na hora da medida do líquido: 5. Eu já tinha visto esse filme. Já sabia que, para parto normal, ele deveria estar entre 8 e 16. E na semana anterior ele estava em 10, o que já estava me deixando tensa em pânico.
Com o líquido em 5.4, eu pensei: fu$#u. o Dr, Javier Miguelez, médico top lá do São Luiz, (ele é médico chefe da unidade do Fleury no São Luiz Itaim) não fez uma, mas 3 medidas para termos certeza que como estava a situação de Rafa dentro da minha barriga. Mediu em cada quadrante, em cada cantinho que ele via líquido (coisa que só os ultrassonografistas conseguem ver) e a oscilação entre as medidas era mínima.
“Vou ligar para sua médica”
Não precisa fazer pós graduação em saúde para entender que quando um médico fala isso pro paciente é que deu merda, né? – Já parei na Kopenhagen do segundo andar da maternidade e comi um coockie e uma Nhá Benta pra desanuviar.
Claro que antes mesmo do Javier me achar, a Dra. Lu já estava me ligando. “Temos que tirar o Rafa. Eu não vou deixar ele entrar em sofrimento. Eu te falei que não aguento essas coisas.” Sabe aquela mulher de 34 anos, forte “como um touro” -segundo meu filho e minha sogra-, madura, jornalista, “entendida” e sensata? DESABOU. Sofrimento é uma palavra que mãe nenhuma merece ouvir. E acho que médico nenhum quer falar. “Você quer fazer o parto hoje ou amanhã?”
Eu só queria ir pra casa. Tinha que pegar Gabriel na escola, tinha que terminar as lembrancinhas. As malas estavam prontas, mas esperando um bebê de mais de 3 quilos. E, pelas minhas contas ele nasceria com menos que que isso, afinal estamos entecipando o nascimento dele em 15 dias!!! E eu não tenho nem fraldas RN, quiçá roupas. Tinha que fazer depilação. Não, hoje não. Quer dizer, ele JÁ está em sofrimento? (senão corta agora!!!!) Dá pra esperar até amanhã? Calma, preciso me organizar. Lembro agora que eu sou a rainha dos planejamentos aqui em casa. Nada dá certo, mas eu continuo firme e forte planejando… e ter um filho assim, definitivamente não estava nos meus planos.
“Liga pra Jarbas. O que vocês decidirem eu faço.” Enquanto isso, dei 456 voltas no quarteirão do São Luiz. Eu não tinha a menor condição de decidir se tiraria meu filho hoje ou no dia seguinte. Não queria que fosse minha essa decisão. Lembro agora que sou libriana. CLARO que não faria essa escolha tão facilmente.
“Nega, para em algum lugar, toma um café e relaxa. Vamos fazer o parto amanhã.” Lembro que dei um grito do tipo: “Como para e relaxa? Como toma um café? Eu vou ter um filho amanhã!!!” Ainda bem que tem muito amor envolvido para eu pensar que ele só queria que eu esperasse o trânsito da Bandeirantes às 18h passar para eu voltar para casa mais tranquila. E ele entender que a minha gritaria, como sempre, era o nervoso de não estar mais no controle da situação.
Encarei o trânsito das 18 horas da Bandeirantes e não lembro de nada. Apenas de que não tirei mais a mão da barriga.
Continua…
Leia também:
O nascimento do segundo filho – parte 2
O nascimento do segundo filho – parte 3